Espetáculo maranhense representa Brasil em festival no Chile

Apresentação de dança ‘Ancés’ cruza ancestralidade afro-indígena, relações sócio-políticas, dança e performance.

O espetáculo de dança Ancés participa da 30ª edição do Festival Santiago a Mil, no Chile,um dos principais e mais antigos festivais de artes da América Latina. É a primeira vez que um espetáculo maranhense é convidado a fazer parte da programação do festival - maior de artes do Chile, desde 1994, apresentando obras (teatro, dança, música, performance, circo, artes visuais e cinema) e artistas de 25 países -, e um dos poucos do Brasil. As apresentações ocorrem nos dias 18, 19 e 20 de janeiro, no Centro Cultural Gabriela Mistral.

A obra é criação de Tieta Macau, primeiro maranhense a ganhar o prêmio de melhor atriz no 49º Festival de Cinema de Gramado, o principal prêmio do cinema brasileiro. "Circular com Ancés em festivais nacionais e internacionais, além de difundir a cultura maranhense, reafirma a qualidade da arte que se produz no Nordeste", afirma o artista. Em 2022, o espetáculo foi premiado no 6º Prêmio Leda Maria Martins de Artes Cênicas Negras.

Em Ancés, texto, musicalidade e movimento são guiados pelo universo de saberes afro-brasileiros. Na obra, um corpo dança na construção de um espaço-terreiro, ao montar o chão com 300 kg de terra no qual se enterra e desenterra, monta e desmonta danças e memórias entre passados e futuros. A ancestralidade é princípio ético, estético e epistemológico no espetáculo que provoca a possibilidade de rearticular narrativas sobre o corpo negro brasileiro.

Ancés encontra brechas para mostrar que a criação, sobretudo em dança e teatro, pode se relacionar com questões da vida social e política
Ancés encontra brechas para mostrar que a criação, sobretudo em dança e teatro, pode se relacionar com questões da vida social e política
Guto Muniz (cortesia)

O espetáculo é a primeira obra maranhense a compor a programação da MITbr 2022 na Mostra Internacional de Teatro de São Paulo, em 15 anos de festival. Também foi convidado a compor a programação nacional do Festival Internacional de Teatro de Belo Horizonte (FIT BH), assim como esteve na Bienal Internacional de Dança do Ceará em 2019. Foi uma das obras de Tieta Macau - assim como Rezos pra Rasgar o Mundo, Anastácias e a série Acidentes Corpográficos - a compor a programação do Centenário de Arte Moderna do Sesc-SP.

Falando de um Brasil plural

Ainda que seja um solo, Ancés é um trabalho que nasceu a muitas mãos entre São Luís e Fortaleza. Morando há cinco anos na capital do Ceará, Tieta Macau e Abejú, produtor do espetáculo, mantém seus vínculos com a terra natal.

Enquanto artistas maranhenses, eu, Abejú e Elton Panamby, artista sonoro do espetáculo, nos sentimos muito felizes em sair do país para apresentar Ancés nesse histórico festival que é o Santiago a Mil, no Chile

Tal fato, por outro lado, revela um triste cenário de dificuldades. "Nós estamos arcando com as passagens por conta própria e através de uma vaquinha coletiva, justamente por não conseguir subsídios públicos ou de organizações privadas para nos auxiliar. Normalmente, o que mais circula fora do país são trabalhos do eixo Sul e Sudeste. Então, não podemos deixar de nos alegrar e entender a importância do nosso trabalho enquanto território que se desloca, enquanto Nordeste. A gente viaja feliz e acreditando na nossa potência enquanto artistas, criadores e pensadores", endossa Tieta.

Segundo o site da Mostra Internacional de Teatro de São Paulo (MITsp), "fortalecer mecanismos de cooperação e integração internacional a partir da cultura significa não somente abrir espaços de projeção e valorização da arte e da diversidade brasileiras, confrontando os trabalhos de criação e circulação com outras realidades, mas principalmente posicionar as políticas culturais como ativo imprescindível para a superação de desafios mundiais e para a resolução de conflitos políticos internacionais".

Ancés representar o Brasil em um evento internacional revela um complexo e não muito explorado cenário relacionado à circulação de trabalhos oriundos da região Nordeste do país. Para Tieta Macau, a ida ao evento acende e instiga reflexões: como expor a produção artístico-cultural do Nordeste? Como circular no território brasileiro, tão amplo e múltiplo? Como as Secretarias de Cultura do Nordeste articulam a nacionalização e internacionalização da arte de seus Estados? Como difundir a cultura brasileira para o próprio Brasil e para o mundo?

Com informações da assessoria

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Sobre o autor: Jornalista profissional (DRT-MA nº 1.139), com ênfase em produção de conteúdo para Web, edição de fotos e vídeos e desenvolvimento de infográficos; com passagem pelas redações do Imirante.com e G1 no Maranhão; e vencedor, por dois anos (2014 e 2015), da etapa estadual do Prêmio Sebrae de Jornalismo, na categoria Webjornalismo. Saiba mais

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